O excesso de peso é um importante problema de saúde pública, que afeta cerca de 40% dos adultos brasileiros, de acordo com o ultimo levantamento do IBGE. O individuo com alguns quilos a mais apresenta, além dos problemas estéticos, um significativo aumento no risco de doenças como o diabetes, a hipertensão, o infarto do miocárdio e a osteoartrose. O aumento no numero de pessoas com excesso de peso, observado nas ultimas décadas, se deve a mudanças nos hábitos alimentares e no nível de atividade física da população. Por essa razão, o tratamento da obesidade sempre deve começar com orientações especificas sobre a alimentação e aconselhamento sobre exercícios físicos regulares.
Quando essas mudanças de comportamento não são suficientes, podem ser necessárias outras medidas, tais como o uso de medicamentos ou mesmo a cirurgia de redução de estomago (gastroplastia). Entretanto, muitas vezes, o paciente obeso, no ímpeto de perder muitos quilos de forma rápida e sem muito esforço, recorre ao uso de medicamentos que não seriam os mais indicados ao seu tratamento.
De fato, no Brasil, a venda dos medicamentos "moderadores de apetite" aumentou em cerca de 500% nos últimos cinco anos, de acordo com um relatório da Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes (JIFE), um órgão ligado à Organização das Nações Unidas (ONU). O preocupante é que muitas vezes essas medicações são prescritas sem um programa concomitante de dieta e exercício, e nessa situação os medicamentos, sozinhos, dificilmente são eficazes. Quer dizer: o paciente pode perder vários quilos durante o uso da medicação, mas assim que interromper seu uso, se não tiver melhorado seus hábitos de alimentação e atividade física, ele vai ganhar novamente todo o peso perdido - ou até mais. É o chamado "efeito sanfona".
Um grande perigo para os pacientes obesos é o uso das chamadas "fórmulas" mágicas, ou "coquetéis", para emagrecer. São compostos que associam, numa mesma cápsula, varias substâncias diferentes, geralmente manipuladas em farmácias, com o objetivo de acelerar a perda de peso. O uso dessas "fórmulas" é PROIBIDO no Brasil, conforme normas emitidas pelo Conselho Federal de Medicina e pelo Ministério da Saúde, mas infelizmente, como a vigilância sanitária não consegue fiscalizar adequadamente a prescrição e uso desses coquetéis, eles continuam sendo utilizados com muita freqüência por médicos inescrupulosos e por pacientes pouco motivados a mudarem seus hábitos de vida. Esses compostos possuem vários efeitos colaterais graves, podendo em algumas situações levar a risco de morte, dependendo da dosagem e da forma que são utilizados. Além disso, podem provocar dependência física e psicológica.
De que são feitas as "fórmulas" para emagrecer?
As "fórmulas" geralmente associam, numa só cápsula, um medicamento inibidor do apetite (em geral, um anorexígeno derivado das anfetaminas, tais como: o femproporex, a anfepramona ou o mazindol), juntamente com um diurético (furosemida) e um ou mais laxantes de origem vegetal (fucus, cáscara sagrada) ou química (fenolftaleína). Algumas vezes podem conter também hormônios tireoidianos (como a tiroxina - T4, a liotironina - T3, ou o acido triiodotiroacético - tiratricol ou Triac) e calmantes (diazepam), bem como várias outras substâncias de efeitos diversos, com o objetivo de aumentar a perda de peso ou diminuir os efeitos colaterais das outras substâncias.
Quais os efeitos colaterais das "fórmulas"?
Quanto mais substâncias químicas uma pessoa ingere, maior a chance de efeitos colaterais sérios. Quando se associam vários compostos com ações diversas numa mesma cápsula, os efeitos podem ser imprevisíveis e até mesmo fatais.
Veja abaixo os principais efeitos colaterais de cada tipo de substância usada nas "fórmulas":
1) Moderadores de apetite (femproporex, anfepramona, dietilpropiona, mazindol) - Podem aumentar a pressão arterial, acelerar os batimentos cardíacos (taquicardia), produzir arritmias cardíacas, causar insônia, boca seca, suor excessivo, agitação, ansiedade e até mesmo delírios e alucinações em algumas pessoas. Em indivíduos que já tenham pressão alta ou problemas cardíacos, podem provocar angina, infarto e morte por parada cardíaca. Os efeitos são mais graves quanto maior a dose e maior o tempo de utilização. Além disso, podem causar dependência se usados por mais de alguns meses. Esses medicamentos são proibidos na maioria dos paises desenvolvidos, mas no Brasil ainda podem ser usados, com receita medica, e tem a vantagem do custo acessível. No entanto, existem varias regulamentações para o seu uso (vide abaixo).
2) Hormônios tireoidianos (liotironina ou T3, tiroxina ou T4, acido triiodotiroacético ou Triac ou tiratricol) - Foram os primeiros medicamentos utilizados para o tratamento da obesidade, no final do século XIX, mas logo foram abandonados porque podem provocar taquicardia, arritmias cardíacas, aumento da pressão arterial, angina, infarto, insônia, agitação, irritabilidade e problemas menstruais quando utilizados em doses altas ou em pessoas que não tenham determinadas doenças da tireóide (Leia mais sobre isso na seção de Hipotireoidismo). Além disso, o uso de hormônios tireoidianos promove perda não só da gordura corporal, mas também do tecido muscular e ósseo, levando a osteoporose (com aumento do risco de fraturas ósseas) e a fraqueza muscular importante e redução da tolerância aos exercícios e da capacidade de trabalho. Seus efeitos colaterais podem ser potencializados pelo uso concomitante de moderadores de apetite (como acontece nas "fórmulas"). Como seus efeitos colaterais são geralmente bem maiores que seus benefícios nessa situação, não há nenhuma justificativa para o seu uso no tratamento da obesidade na ausência de algumas doenças da tireóide.
3) Diuréticos (furosemida, hidroclorotiazida etc.) - Reduzem o peso apenas através da perda de água corporal, sem interferir na quantidade de gordura do corpo. Por alterarem o conteúdo de água do organismo, podem levar a problemas renais graves (insuficiência renal e pedras nos rins), bem como à perda de sais minerais importantes (potássio, sódio, cálcio etc.).
4) Laxantes (fenolftaleína, fucus, sene, cáscara sagrada etc.) - Agem da mesma forma que os diuréticos: diminuem o peso aumentando a perda de água nas evacuações. Podem levar a problemas renais e intestinais diversos. Além disso, o uso de laxantes por tempo prolongado pode fazer com que o intestino fique "dependente" desses medicamentos, e o paciente vai ter muita dificuldade em evacuar sem o uso dos mesmos. Assim como os hormônios tireoidianos, nem os diuréticos nem os laxantes são recomendados para emagrecimento.
4) Calmantes e ansiolíticos (diazepam, clonazepam, lorazepam, bromazepam, fluoxetina) - São colocados nas "fórmulas" apenas para tentar diminuir os efeitos colaterais (insônia, agitação, irritabilidade) produzidos pelos moderadores de apetite e hormônios tireoidianos. Quando usados isoladamente, podem levar a ganho de peso. Quando usados em conjunto com essas outras substâncias, podem levar a interações medicamentosas diversas e efeitos imprevisíveis sobre o sistema nervoso central (delírios, alucinações, paranóia, mania de perseguição, fobias, depressão, surtos psicóticos etc.). Assim como os moderadores de apetite, também podem provocar dependência se usados por tempo prolongado.
5) Compostos "naturais" e ervas diversas (erva-de-são-joão, aloína, quitosana, guaraná, kava-kava, passiflora, gelatina, glucomannan) - Não há estudos sobre o uso dessas substâncias no tratamento da obesidade, portanto não se sabe se são úteis ou não. Além disso, como não há estudos sérios sobre seu uso, também não há conhecimento sobre seus possíveis efeitos colaterais. O mito de que remédios "naturais" não possuem efeitos adversos e totalmente falso. De fato, muitos dos medicamentos e venenos mais potentes conhecidos na atualidade são derivados de substâncias "naturais". Como seus efeitos são desconhecidos, não podem ser recomendados para o tratamento da obesidade, e deve-se ter muita cautela com seu uso, uma vez que pode haver efeitos colaterais ainda ignorados.
As "fórmulas" para emagrecer funcionam?
Em curto prazo, o uso de "fórmulas" produz perda de peso. Alguns tipos de "fórmulas" podem levar a perdas de mais de 10 quilos por mês no inicio do uso. No entanto, a maioria dos pacientes não suporta os efeitos adversos potencialmente graves desses compostos e acaba utilizando-os por poucas semanas. Se o paciente não tiver mudado seus hábitos nesse intervalo, ele fatalmente recuperara todo o peso perdido (ou mais) dentro de poucos meses. Portanto, as "fórmulas" não funcionam em longo prazo. Para algumas pessoas, as "fórmulas" acabam sendo "remédios que engordam", pois um indivíduo pode perder 8 quilos durante o uso das drogas e ganhar 12 quilos depois que parar seu uso - no final das contas, um ganho de 4 quilos.
Além disso, as pessoas que conseguem fazer uso desses "coquetéis" por mais tempo correm um risco alto de desenvolver dependência física e psicológica (provocada pelos moderadores de apetite e calmantes). Nesse caso, a interrupção da "fórmula" vai causar perturbações serias, como depressão, ansiedade, sonolência excessiva, cansaço, desanimo, mal-estar, inchaço, obstinação intestinal, hipotireoidismo e até mesmo tentativas de suicídio.
Vale ressaltar que uma perda de peso saudável e aquela que reduz a quantidade de gordura corporal e melhora a saúde geral do individuo. No caso das "fórmulas", não é isso o que acontece, pois a pessoa perde não só gordura como também músculos, massa óssea e água corporal, além de poder apresentar varias complicações de ordem mental e física e correr um enorme risco de ganhar peso novamente após interrupção do seu uso.
Quais são as leis que regulamentam o uso de remédios para emagrecer e "fórmulas"?
O Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou em 1997 a Resolução CFM numero 1477/97, que proibiu aos médicos a prescrição simultânea de drogas moderadoras de apetite (tipo anfetaminas), com um ou mais dos seguintes fármacos: benzodiazepínicos (calmantes), diuréticos, hormônios da tireóide, extratos hormonais e laxantes, com finalidade de tratamento da obesidade ou emagrecimento.
Fonte: http://www.portalendocrino.com.br/